construção renovável
outubro 2022
A atual crise ambiental é pauta de discussão em todas as esferas da sociedade e cabe ao campo disciplinar da arquitetura e engenharia entender os impactos ambientais causados pela cadeia de produção do setor para a partir disso tomar medidas que reduzam a emissão de gases de efeito estufa, o consumo de água e energia, a geração de resíduos e outros efeitos urbanísticos negativos.
É preciso ressaltar que a construção é um setor central na mitigação dos efeitos da crise climática, sendo responsável por 11% das emissões globais de CO2 (UN Environment Programme, 2018, p. 11) e por 6% do consumo energético mundial (Miller, 2018, 69-76). Em relação à geração de resíduos, o caso brasileiro é bastante impressionante: o lixo urbano é composto, em massa, por 50% a 70% de resíduos de obra (IPEA, 2012, p.10).
Alternativas Possíveis
Pensar maneiras de construir que efetivamente contribuam para a regeneração de ecossistemas passa por uma compreensão de toda a cadeia de produção, da extração de recursos à destinação de resíduos pós-demolição.
Assim, uma abordagem voltada para a construção renovável deve ter como ponto de partida a análise regional dos recursos naturais disponíveis e de qual deve ser o ritmo de extração para que a restauração dos ecossistemas locais seja garantida (Material Reform, 2022, p. 19-20).
Nesse sentido, diferentes regiões do globo devem desenvolver estratégias locais que dialoguem tanto com condições materiais e recursos disponíveis, quanto com técnicas e culturas construtivas que refletem a cultura do lugar.
Diminuir a dependência da cadeia internacional de extração e transporte de materiais básicos é um passo essencial para uma mudança em direção a uma indústria da construção não apenas com menor impacto ambiental, mas que também combata a exploração de recursos naturais não processados de países em desenvolvimento, muitas vezes expondo trabalhadores de tais regiões a condições de trabalho inadequadas (Material Reform, 2022, p. 41).
É preciso ressaltar que a construção é um setor central na mitigação dos efeitos da crise climática, sendo responsável por 11% das emissões globais de CO2 (UN Environment Programme, 2018, p. 11) e por 6% do consumo energético mundial (Miller, 2018, 69-76). Em relação à geração de resíduos, o caso brasileiro é bastante impressionante: o lixo urbano é composto, em massa, por 50% a 70% de resíduos de obra (IPEA, 2012, p.10).
Alternativas Possíveis
Pensar maneiras de construir que efetivamente contribuam para a regeneração de ecossistemas passa por uma compreensão de toda a cadeia de produção, da extração de recursos à destinação de resíduos pós-demolição.
Assim, uma abordagem voltada para a construção renovável deve ter como ponto de partida a análise regional dos recursos naturais disponíveis e de qual deve ser o ritmo de extração para que a restauração dos ecossistemas locais seja garantida (Material Reform, 2022, p. 19-20).
Nesse sentido, diferentes regiões do globo devem desenvolver estratégias locais que dialoguem tanto com condições materiais e recursos disponíveis, quanto com técnicas e culturas construtivas que refletem a cultura do lugar.
Diminuir a dependência da cadeia internacional de extração e transporte de materiais básicos é um passo essencial para uma mudança em direção a uma indústria da construção não apenas com menor impacto ambiental, mas que também combata a exploração de recursos naturais não processados de países em desenvolvimento, muitas vezes expondo trabalhadores de tais regiões a condições de trabalho inadequadas (Material Reform, 2022, p. 41).
Madeira e Aprisionamento de Carbono
Na busca por alternativas para construção com baixo impacto ambiental, a madeira é muitas vezes apontada como um interessante substituto para o concreto armado e o aço.
De fato, para a Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa a madeira engenheirada tem potencial para estabelecer-se como o material do século XXI (UNECE, 2016). Uma série de atributos explicam essa expectativa: em primeiro lugar, o fato de este ser um material que, se adequadamente manejado, pode ser considerado plenamente renovável; em segundo lugar, o fato de a madeira naturalmente sequestrar carbono da atmosfera, aprisionando-o em sua estrutura celular.
No entanto, o otimismo com que um futuro da construção civil baseado na madeira é muitas vezes visto deve ser moderado pelas lentes de uma compreensão profunda de como essa madeira é usada, qual a sua procedência e como ela é processada.
A plantação de monoculturas de eucalipto e pinus baseada em sistema de corte raso, no qual todas as árvores são derrubadas ao mesmo tempo, é um exemplo de prática extremamente problemática. Embora a monocultura seja atrativa por viabilizar cultivos mais mecanizados e eficientes, ela leva a problemas ambientais sérios, incluindo o empobrecimento e erosão do solo, a diminuição da diversidade de espécies animais e vegetais devido ao uso de pesticidas e químicos e a possível contaminação de cursos de água e do lençol freático (Material Reform, 2022, p. 58-59; 117-118).
Um modelo muito mais responsável é o plantio de florestas integradas a áreas de manejo de florestas nativas, garantindo assim uma diversidade adequada e a preservação da biodiversidade local.
Para adicionar ainda outra camada de complexidade à questão, o Brasil possui, segundo estudos da Embrapa e da FAO, de 100 a 180 milhões de hectares de áreas degradadas que poderiam ser utilizadas para o plantio de florestas destinadas à extração de madeira para usos de ciclos longos, especialmente em elementos de construção estruturais. De acordo com um estudo da McKinsey (2009, p. 12; 31), o reflorestamento de áreas degradadas seria uma das estratégias mais eficientes para redução das emissões nacionais de Gases de Efeito Estufa (GEE), atrás apenas da eliminação do desmatamento da floresta amazônica.
Para Além da Madeira: Materiais de Origem Natural
Materiais de origem orgânica (os chamados bio-based materials) são materiais feitos a partir de plantas ou outros tipos de biomassa (Material Reform, 2022, p. 110). Embora usualmente derivados de plantas, podem incluir também materiais de origem animal – como lã de ovelha, usada como isolamento térmico – e materiais feitos a partir de fungos – como o mycelium, que pode ser usado para fazer blocos ou painéis.
Outro material que tem um papel central na história da humanidade é a terra, a qual foi incorporada a diferentes tradições culturais de múltiplas maneiras, seja através de técnicas de adobe, de taipa mão ou mesmo de tijolos.
Em termos de impacto ambiental, cabe notar que tijolos queimados têm emissões associadas de CO2 bastante significativa, enquanto alguns usos contemporâneos de adobe com aditivos químicos como cimento são problemáticos do ponto de vista ambiental – ao considerar o volume adicional de estruturas em adobe, que costumam ser mais robustas, a adição de estabilizadores químicos chega a corresponder à quantidade de cimento utilizada em uma estrutura de concreto armado (Rauch, 2020).
Nesse sentido, um caminho viável para o uso da terra como um material renovável de baixo impacto ambiental passa por garantir que a extração da terra seja local e que esta seja usada sem estabilizantes químicos, viabilizando assim um efetivo ciclo renovável.
Na busca por alternativas para construção com baixo impacto ambiental, a madeira é muitas vezes apontada como um interessante substituto para o concreto armado e o aço.
De fato, para a Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa a madeira engenheirada tem potencial para estabelecer-se como o material do século XXI (UNECE, 2016). Uma série de atributos explicam essa expectativa: em primeiro lugar, o fato de este ser um material que, se adequadamente manejado, pode ser considerado plenamente renovável; em segundo lugar, o fato de a madeira naturalmente sequestrar carbono da atmosfera, aprisionando-o em sua estrutura celular.
No entanto, o otimismo com que um futuro da construção civil baseado na madeira é muitas vezes visto deve ser moderado pelas lentes de uma compreensão profunda de como essa madeira é usada, qual a sua procedência e como ela é processada.
A plantação de monoculturas de eucalipto e pinus baseada em sistema de corte raso, no qual todas as árvores são derrubadas ao mesmo tempo, é um exemplo de prática extremamente problemática. Embora a monocultura seja atrativa por viabilizar cultivos mais mecanizados e eficientes, ela leva a problemas ambientais sérios, incluindo o empobrecimento e erosão do solo, a diminuição da diversidade de espécies animais e vegetais devido ao uso de pesticidas e químicos e a possível contaminação de cursos de água e do lençol freático (Material Reform, 2022, p. 58-59; 117-118).
Um modelo muito mais responsável é o plantio de florestas integradas a áreas de manejo de florestas nativas, garantindo assim uma diversidade adequada e a preservação da biodiversidade local.
Para adicionar ainda outra camada de complexidade à questão, o Brasil possui, segundo estudos da Embrapa e da FAO, de 100 a 180 milhões de hectares de áreas degradadas que poderiam ser utilizadas para o plantio de florestas destinadas à extração de madeira para usos de ciclos longos, especialmente em elementos de construção estruturais. De acordo com um estudo da McKinsey (2009, p. 12; 31), o reflorestamento de áreas degradadas seria uma das estratégias mais eficientes para redução das emissões nacionais de Gases de Efeito Estufa (GEE), atrás apenas da eliminação do desmatamento da floresta amazônica.
Para Além da Madeira: Materiais de Origem Natural
Materiais de origem orgânica (os chamados bio-based materials) são materiais feitos a partir de plantas ou outros tipos de biomassa (Material Reform, 2022, p. 110). Embora usualmente derivados de plantas, podem incluir também materiais de origem animal – como lã de ovelha, usada como isolamento térmico – e materiais feitos a partir de fungos – como o mycelium, que pode ser usado para fazer blocos ou painéis.
Outro material que tem um papel central na história da humanidade é a terra, a qual foi incorporada a diferentes tradições culturais de múltiplas maneiras, seja através de técnicas de adobe, de taipa mão ou mesmo de tijolos.
Em termos de impacto ambiental, cabe notar que tijolos queimados têm emissões associadas de CO2 bastante significativa, enquanto alguns usos contemporâneos de adobe com aditivos químicos como cimento são problemáticos do ponto de vista ambiental – ao considerar o volume adicional de estruturas em adobe, que costumam ser mais robustas, a adição de estabilizadores químicos chega a corresponder à quantidade de cimento utilizada em uma estrutura de concreto armado (Rauch, 2020).
Nesse sentido, um caminho viável para o uso da terra como um material renovável de baixo impacto ambiental passa por garantir que a extração da terra seja local e que esta seja usada sem estabilizantes químicos, viabilizando assim um efetivo ciclo renovável.